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terça-feira, 22 de março de 2011

Entre cartilhas e armarios

Entre cartilhas e armários

Walber Aguiar*



Para tudo há um tempo determinado debaixo do sol.
                                                                       Eclesiastes


Sala de aula. Um alvoroço de meninos e meninas, frenesi diante de cadernos, matérias e professores. No meio da garotada um menino demonstra muita afetividade, educação e sensibilidade. Visto com desconfiança, o garoto começa a ser tachado de “menina”, “gay”, “veadinho”  por aqueles que nunca receberam a mesma educação em casa. Daqueles que são criados  na “ponta da bota”, na base da porrada, do grito; assim como Deus criou batata.
Ora, a questão sexual, o que nem é o caso da criança vítima do bullyng na escola, não pode ser alvo de caça às bruxas, afinal a opção de cada um deve ser respeitada. O respeito sempre cabe, o que não cabe é você aceitar pra si a opinião e o modus vivendi do outro.
Se alguém opta por ser gay, lésbica, bissexual ou qualquer outra coisa do gênero, é problema ou solução de quem se vê ou se percebe afeito a uma relação afetiva deiferenciada.
Há quem diga que isso é uma questão genética; pelo fato de vivermos e convivermos numa realidade caída, sujeita a todo tipo de pulsão e conduta comportamental. Alguns asseveram que isso nasce na psique, na alma humana, decorrente de algum trauma sofrido em alguma fase da vida. Ainda alguns afirmam ser um problema sociológico, alguma coisa que vem de fora, do grupo social e suas repressões de comportamento.
Opções à parte, é preciso que se tenha muito cuidado no momento de passar às crianças certas questões sobre vícios, relacionamentos, atitudes, condicionamentos, sob o fito de que, em assim fazendo, as mesmas estarão agindo de maneira correta, elegendo assim uma postura ética, um comportamento ilibado, uma visão de mundo equilibrada.
A própria psicopedagogia nos diz que a criança, com a questão sexual ainda latente, não deve ser alvo de determinado tipo de instrução mais aprofundada. Isso, seguramente, deve ser discutido e ensinado com mais detalhamento na adolescência, uma fase em que o indivíduo é dado a extrema curiosidade e costuma perguntar mais do que um adulto ou jovem pode responder.
Entendo que ninguém pode ou deve ser homofóbico, rejeitando e desprezando o ser humano pela sua particular maneira de ver e agir em relação ao sexo; se assim fosse teríamos que banir do convívio os fumantes, os alcoólatras, as prostitutas e todos aqueles que não optam por um viés sociológico “normal”, aquele que não se encaixa na ótica tradicional que recebemos.
Ora, a escola precisa trabalhar uma visão de mundo onde haja o respeito às diferenças, mas não pode se limitar ao homossexual apenas. Por causa da visão restrita é que há cotas para negros nas universidades, o que reforça o preconceito sob a ótica do atraso social, da discriminação, da marginalização do elemento negro na história.
Não há que se falar em afunilamento de conceitos, pois se ninguém vai atirar pedras naqueles que são diferentes, também não vai lançar flores sobre a opção de quem quer que seja. O importante é que todos sejam esclarecidos e críticos em relação a qualquer assunto.
Quanto a sofrer com a vida dupla, penso que seja melhor sair do armário e se assumir. Assim, tanto o armário quanto a cartilha do governo federal devem ser abertos na hora certa...



*Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. wd.aguiar@gmail.com  

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