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sábado, 9 de abril de 2011

Nu com a mão no bolso

Walber Aguiar*

A gente não está com a bunda exposta na janela, pra passar mão nela.
                                                                                          Gonzaguinha

Manhã de sexta. Dia mundial da preguiça e da farra. Dia de matar serviço, no entender do inconsciente coletivo daqueles que trabalham a semana inteira. Dia de se mostrar em protesto ou num gesto de amor e solidariedade. Dia de botar a boca no mundo, no desejo de encontrar gente pra ver e pra olhar nos olhos. Dia de viver e de morrer em uma cruz.
Jorge Schwinder estava lá, extremamente indignado. Puto de raiva com a sacanagem, com o crime de cartelização praticado pela quadrilha que aumenta o preço do combustível e continua a extorquir os “barnabés”, aqueles que vivem milagrosamente da economia do contracheque.
Em cena o trabalhador, o indivíduo que me inspirou a escrever vários textos neste espaço. Os “diários de um servidor” foram escritos tendo Jorge como principal referência.  Quem ganha honestamente com o suor do rosto só pode mesmo  é protestar contra os “tubarões” que ganham dinheiro com o roubo e a extorsão, que fazem o papel de sanguessugas e engordam seus corações em dias de matança. Quem trabalha pelo progresso dessa terra de Macunaima, tem que ficar roxo de raiva com a omissão e a covardia de quem foi eleito para representar o povo, os miseráveis que morrem de fome, de raiva e de sede.
Também falou  como cidadão. E um cidadão da polis, da cidade, do espaço urbano usurpado pelo  medo, pela injustiça, pela doença e por todas as mazelas econômicas e sociais que esmagam e oprimem a vida e a cidadania. Um cidadão que paga seus impostos tem que, necessariamente, cobrar cada centavo daqueles que vivem na sombra e água fresca, debaixo de coqueiros existenciais, como se a vida fosse pesadelo pra maioria e sonho para os escolhidos a dedo.
Por último, Jorge Schwinden falou como homem. Um homem cheio de brio, coragem, galhardia, indignação e esperança. Exatamente o que faltou nos engravatados e nos ladrões do dinheiro público, que visam apenas o capital e, há muito, esqueceram que são gente, que tem filhos, que “vivem”,  que um dia vão “dormir dentro da terra”.  À semelhança de Jesus, que expôs sua vergonha publicamente, Jorge se deu e se mostrou, na tentativa de intervir na dor e na miséria  humanas. O que esperamos é que os ladrões se arrependam,  por medo do “inferno  financeiro” que vão passar com o boicote aos postos Petrobrás.
Assim como o gesto de Jesus teve enorme repercussão, que Jorge não tenha se despido inutilmente. Que o Ministério Público não faça como Pilatos e que o povo vire as costas para a cartelização dos “Barrabás”...



*Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. wd.aguiar@gmail.com    confissoesdopoeta.blogspot.com


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