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domingo, 27 de março de 2011

O bom paraibano



Walber Aguiar*

Alguém é tanto mais santo quanto mais humano seja.
                                                                Caio Fábio


Três horas da tarde. O primeiro passou de largo, o segundo afastou-se, o terceiro estendeu a mão e tocou as chagas do ferido. Os homens da religião, sacerdote e levita, estavam apressados demais para se aproximar do que fora vitimado pelos ladrões de estrada. Os homens públicos também.
Aqui também eram três horas da tarde. Homens caídos ä margem. Gente vitimada pelos ladrões de gravata, pelos bandidos de colarinho branco; aqueles que fazem grandes saques, que desviam o dinheiro público, que compram votos, que agem com cinismo e tripudiam sobre os miseráveis; que engordam seus corações em dias de matança.
Ora, sacerdotes e levitas modernos fazem parte da religião institucionalizada. Vivem do legalismo, inventam doutrinas, louvam a estupidez numérica, as grandes massas humanas manipuladas em nome do sagrado. Preocupam-se apenas com o grande guarda chuva denominacional. Assim, para  não chegarem atrasados, desprezam os desgraçados desse mundo.
Da mesma forma, outras instituições passam de largo. O legislativo não vota assuntos de interesse dos “párias”, do povo que vota e se mantém encurralado por quatro anos. O executivo abandona a patuléia quando elabora esquemas de lavagem de dinheiro, licitações viciadas, concursos de fachada e não cuida da segurança, da saúde, da educação e da cultura.
No entanto, ainda existem bons samaritanos e bons paraibanos. Gente que deixa seus afazeres, que ainda consegue parar e pensar no humano que carrega no peito. Sem toga, capa ou manto religioso, eles “perdem” tempo com os caídos e marginalizados , com aqueles que o sistema esqueceu e a vida empurrou para um canto.
Nos dias de Jesus temos o bom samaritano, nos dias atuais o bom paraibano. Rocelito Vito Joca, defensor público, usou o remédio jurídico que conhecia para tocar as feridas do detento, do desprezado, do homem esquecido pelo braço institucional. Parou seu incansável percurso jurídico e resolveu que, antes de se importar com o papel frio e sem vida, se importaria com o indivíduo estigmatizado pela dor e pela injustiça.
Quanto mais santo mais humano, “ quanto mais cabra mais cabrito”, como diz o Rocelito...



*Poeta, advogado, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. wd.aguiar@gmail.com 

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